May 17, 2011

Filhos.

I have the privilege to have Andre as a friend. In so many moments of my life he has been a rock for me. For these moments and for the many, many others when he just showers me with his friendship, I'm forever grateful. But, most of all, I owe him the happiness of being so happily married!
For my English speaking friends, I apologize for the lack of translation.
For my Brazilian friends, I hope this letter inspire you, as it did to me, to be more, to be better, to be awesome to our little ones!
Meet: Andre Pinto Facebook page.

Lili e Dedé,
 
Há quem se arrependa de não ter podido viver a infância e adolescência dos filhos. Eu sou um privilegiado por não ter esse arrependimento.
 
Sempre vivi intensamente todas as fases desse desenvolvimento, o que sempre me fez agradecer a Deus pela oportunidade única de ser o pai de filhos maravilhosos.
 
Beijos de boa noite, de borboleta, de passarinho... durmam com os anjos, os peixinhos e os coelhinhos!
 
Que dançavam nas festas de São João do Colegio Cruzeiro e até no Resumo da Ópera, no Scala ou as vezes  molhados pelo banho de espuma em São Conrado.
 
Feiras de Ciências da ECO... belas surpresas! Jogos no Maracanã, de Flamengo dos pés a cabeça!
 
Alianças e culturas...quantas idas e vindas! Balé, futebol de salão, capoeira... que vida maneira!
 
Não acredito que se fique órfãos dos filhos... eles estão tatuados na alma e vamos juntos com eles para onde se forem, gravados em seu DNA.
 
Não se livram de nós nem nos livramos deles... que bom!
 
Grande natureza!
 
Na idade adulta, que bom sermos parceiros, cúmplices e confidentes. Com a sabedoria que os anos se encarregam de trazer.
 
Acho que não tenho carinho ocioso ou estocado. Ele brota a todo instante. Sobra. E para os netos...ah! Tenho todo o biotipo de urso carinhoso para aconhegá-los o quanto possa.
 
Não creio que os netos sejam a última oportunidade de reeditar afeto! Cada gesto de carinho é uma nova edição. Revista e melhorada...
 
Meu afeto não tem fim, nem meu carinho também!
 
E vocês tem o meu amor irrestrito, incondicional, infinito...
 
Um beijo com todo o meu carinho.
Papai 


Texto de Affonso Romano de Santana.
Há um período em que os pais vão ficando órfãos dos próprios filhos.

É que as crianças  crescem. Independentes de nós, como árvores, tagarelas e pássaros estabanados, elas crescem sem pedir licença. Crescem como a inflação, independente do governo e da vontade popular. Entre os estupros dos preços, os disparos dos discursos e o assalto das estações, elas crescem com uma estridência alegre e, às vezes, com alardeada arrogância.

Mas não crescem todos os dias, de igual maneira; crescem, de repente.

Um dia se assentam perto de você no terraço e dizem uma frase de tal maturidade que você sente que não pode mais trocar as fraldas daquela criatura.

Onde e como andou crescendo aquela danadinha que você não percebeu? Cadê aquele cheirinho de leite sobre a pele? Cadê a pazinha de brincar na areia, as festinhas de aniversário com palhaços, amiguinhos e o primeiro uniforme do maternal?

Ela está crescendo num ritual de obediência orgânica e desobediência civil. E você está agora ali, na porta da discoteca, esperando que ela não apenas cresça, mas apareça. Ali estão muitos pais, ao volante, esperando que saiam esfuziantes sobre patins, cabelos soltos sobre as ancas. Essas são as nossas filhas, em pleno cio, lindas potrancas.

Entre hambúrgueres e refrigerantes nas esquinas, lá estão elasuniforme de sua geração: incômodas mochilas da moda nos ombros ou, então com a suéter amarrada na cintura. Está quente, a gente diz que vão estragar a suéter, mas não tem jeito, é o emblema da geração.

Pois ali estamos, depois do primeiro e do segundo casamento, com essa barba de jovem executivo ou intelectual em ascensão, as mães, às vezes, já com a primeira plástica e o casamento recomposto. Essas são as filhas que conseguimos gerar e amar, apesar dos golpes dos ventos, das colheitas, das notícias e da ditadura das horas. E elas crescem meio amestradas, vendo como redigimos nossas teses e nos doutoramos nos nossos erros.

Há um período em que os pais vão ficando órfãos dos próprios filhos.

Longe já vai o momento em que o primeiro mênstruo foi recebido como um impacto de rosas vermelhas. Não mais as colheremos nas portas das discotecas e festas, quando surgiam entre gírias e canções. Passou o tempo do balé, da cultura francesa e inglesa. Saíram do banco de trás e passaram  para o volante de suas próprias vidas. Só nos resta   dizer “bonne route, bonne route”, como naquela canção francesa narrando a emoção do pai quando a filha oferece o primeiro jantar no apartamento dela.

Deveríamos ter ido mais  vezes à cama delas ao anoitecer para ouvir  sua alma respirando conversas e confidências entre os lençóis da infância, e os adolescentes cobertores daquele quarto cheio de colagens, posteres e agendas coloridas de pilô. Não, não as levamos suficientemente ao maldito “drive-in”, ao Tablado para ver “Pluft”, não lhes demos suficientes hambúrgueres e cocas, não lhes compramos todos os sorvetes e roupas merecidas.

Elas cresceram sem que esgotássemos nelas todo o nosso afeto. 

No princípio  subiam a serra ou iam à casa de  praia entre embrulhos, comidas, engarrafamentos, natais, páscoas, piscinas e amiguinhas. Sim, havia as brigas dentro do carro, a disputa pela janela, os pedidos de sorvetes e sanduíches infantis. Depois chegou a idade em que subir para a casa de campo  com os pais começou a ser um esforço, um sofrimento, pois era impossível deixar a turma aqui na praia e os primeiros namorados. Esse exílio  dos pais, esse divórcio dos filhos, vai durar sete anos bíblicos. Agora é hora de os pais na montanha  terem a solidão que queriam, mas, de repente, exalarem contagiosa saudade daquelas pestes.

O jeito é esperar. Qualquer hora podem nos dar netos. O neto é a hora do carinho ocioso e estocado, não exercido nos próprios filhos e que não pode morrer conosco. Por isso, os avós são tão desmesurados e distribuem tão incontrolável afeição. Os netos são a última oportunidade de reeditar o nosso afeto.

Por isso, é necessário fazer alguma coisa a mais, antes que elas cresçam.

No comments:

Post a Comment

Hi and thank you for coming by and I will love to hear your thoughts and comments. Thank you!